Embora a pesquisa pareça ser intrínseca ao processo de projeto, a pesquisa arquitetônica é um caminho profissional em si, cujo objetivo é destacar evidências científicas e explorar alternativas fora das normas pré-estabelecidas ou considerações empíricas. Seu objetivo é criar uma estrutura de conhecimento que possa informar o design visando alcançar resultados objetivamente melhores. A seguir, discutimos o papel e o estado da pesquisa em arquitetura, algumas áreas de investigação proeminentes e os arquitetos ou instituições que dedicam seu trabalho a esses assuntos.
Em 2018, o AIA afirmou que "a pesquisa disponível para estudo da arquitetura e construção é desproporcional ao seu impacto [nas sociedades e economias]" e propôs uma extensa agenda de pesquisa, ao mesmo tempo em que promoveu um maior investimento em pesquisa e instrução. O argumento era que a forma como a arquitetura aborda as principais mudanças tecnológicas, ambientais e sociais "afeta todas as escalas - do indivíduo à sociedade em geral" e, portanto, requer esforços de pesquisa a par dessas implicações.
Pesquisa arquitetônica versus pesquisa pela prática
O artigo canônico de Jeremy Till encomendado pelo RIBA, Architectural Research: Three Myths and One Model, argumenta que "arquitetura é uma forma de conhecimento que pode e deve ser desenvolvida por meio de pesquisa" mas, além disso, ajuda a definir o que exatamente constitui pesquisa em arquitetura. Em seu ensaio, publicado inicialmente em 2007, com uma versão revisada apresentada em 2017, Till contradiz a ideia de que a prática é intrinsecamente uma forma de pesquisa ao afirmar que o conhecimento da arquitetura excede o objeto construído e que qualquer conhecimento que um edifício contenha, não é explicitamente comunicado. Ele também critica a revogação de metodologias de pesquisa e defende a pesquisa arquitetônica conduzida por meio de um paradigma específico da arquitetura, em vez das metodologias de outros campos que ela cruza em seu processo.
Em sua palestra no Simpósio The Practice of Architectural Research de KU Leuven, o professor Wilfried Wang descreve a pesquisa arquitetônica como "publicamente transparente, cientificamente analítica e verificável de forma independente", distinguindo-a das ideias empíricas e suposições decorrentes da prática diária. A pesquisa arquitetônica se enquadra em três categorias: pesquisa que cria e expande conhecimento, geralmente conduzida dentro da academia e laboratórios de pesquisa, pesquisa aplicada, projetada para uma aplicação específica, transferindo novos conhecimentos para a prática, e pesquisa baseada em projetos.
Campos de pesquisa
Para compreender como um edifício melhora o seu desempenho, influencia na saúde ou como o ambiente construído afeta o comportamento e as funções cognitivas das pessoas, o potencial de novas tecnologias e a inovação de materiais são apenas algumas áreas críticas de estudo. Além disso, novas ideias em urbanismo, estudos sobre resiliência, intervenções de projeto que reduzam o impacto ambiental e a compreensão de como a arquitetura pode melhorar a equidade são necessidades de pesquisa igualmente essenciais no campo da arquitetura.
Neurociência, comportamento humano, saúde e bem-estar são atualmente áreas de investigação em voga na pesquisa arquitetônica, pois o conhecimento nesses campos se expandiu significativamente nas últimas duas décadas. Nesse sentido, a Academia de Neurociências para Arquitetura (ANFA) explora a interseção entre design e comportamento, com a missão de usar pesquisas em neurociência para melhorar o design do ambiente construído. O estudo da arquitetura através dessas lentes também deu origem a novas áreas de pesquisa como neurociência ambiental e neuroarquitetura, moldando uma compreensão científica do impacto do ambiente construído nos processos e comportamentos cerebrais.
Neri Oxman e sua investigação na ecologia dos materiais ou Jenny Sabin e sua pesquisa sobre a aplicação da ciência e da biologia na arquitetura buscam a inovação da arquitetura por meio da transdisciplinaridade e cruzamentos de diferentes áreas de especialização. O agora descontinuado Mediated Matter Group do MIT conduziu pesquisas na interseção de design computacional, fabricação digital, ciência de materiais e biologia sintética. Ao mesmo tempo, as novas tecnologias, sejam aquelas usadas no projeto de edifícios, como a fabricação digital ou as tecnologias usadas nas operações de construção, são um terreno fértil para a pesquisa arquitetônica. Também no MIT, o Self-Assembly Lab procura desenvolver tecnologias de automontagem e materiais programáveis, enquanto o Sustainable Design Lab desenvolve ferramentas para avaliar o desempenho ambiental dos edifícios. Na Universidade de Stuttgart, a pesquisa do professor Achim Menges concentra-se no desenvolvimento de "processos de design na interseção da computação de projeto morfogenético, engenharia biomimética e fabricação auxiliada por computador", trabalhando essencialmente no desenvolvimento de um novo paradigma de design e construção.
Pesquisa dentro da prática
Ao mesmo tempo, a pesquisa não reside apenas na academia, pois algumas empresas a colocam na vanguarda de sua prática. A Perkins+Will vai além das preocupações típicas de um escritório de arquitetura e publica uma revista revisada por pares duas vezes por ano para a qual pesquisadores e arquitetos investigam tópicos que, embora possam ter o potencial de embasar futuros projetos, são desenvolvidos fora da prática comum. Além disso, o escritório abriga vários Laboratórios de Pesquisa onde, juntamente com acadêmicos e especialistas em diferentes áreas, desenvolve linhas de investigação em tecnologia de construção, experiência humana, desempenho de materiais, mobilidade ou resiliência. Os temas destes estudos vão desde o impacto do comportamento de trabalho adaptativo nas emissões de carbono, fatores que reduzem a poluição sonora nos espaços urbanos ou a criação de um quadro de indicadores de equidade social. Outra abordagem de pesquisa dentro da prática é o White Arkitketer's Research Lab, cuja agenda para 2020-2023 é explorar por meio de colaborações interdisciplinares o assunto da arquitetura circular, investigando fluxos de produtos, transformação e reutilização ou estratégias para projetos positivos para o clima.
A pesquisa acadêmica tem o defeito de ser um tanto hermética. Embora revistas como Frontiers of Architectural Research divulguem trabalhos no campo da pesquisa arquitetônica e universidades de prestígio tentem popularizar suas descobertas, elas raramente penetram na prática convencional. Muitas vezes criticada por ser auto-referencial e introspectiva, a pesquisa arquitetônica está lentamente desenvolvendo suas próprias metodologias, servindo ao processo de design na formação de um ambiente construído melhor.
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